
A chuva de mais de 60mm concentrada em apenas 45 minutos em Porto Alegre, na noite dessa quarta-feira, foi suficiente para revelar mais uma causa de alagamentos na Capital: o acúmulo de lixo descartado irregularmente. A Prefeitura estava preparada para possíveis quedas de energia elétrica, com uso de geradores alugados nas casas de bombas de drenagem, mas duas delas pararam de funcionar porque os detritos acumulados trancaram as hélices que empurram a água para o Guaíba. O problema ocorreu nas unidades próximas à Estação Rodoviária e ao Tribunal de Justiça do Estado.
Depois de vistorias em todos os locais, o diretor-geral do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), Tarso Boelter, constatou que a quantidade de lixo também já era preocupante para o bombeamento nos bairros Sarandi, Navegantes e próximo ao parque Marinha do Brasil. Operações de limpeza contornaram a situação até o início da madrugada, mas a perspectiva de vento que segue represando o Guaíba mantém o alerta para a manutenção da drenagem. “Muito lixo chegando nas bombas e comprometendo o funcionamento de duas delas. (…) A gente monitora de hora em hora (a meteorologia) e nossa previsão é de continuar o vento Sul, represando as águas do Guaíba e de, na próxima semana, entrar o vento Leste que também não é favorável”, relatou.
A possibilidade de estender a locação dos geradores para sete das 19 casas de bombas, que em princípio termina amanhã, será avaliada em reuniões durante o dia. Às 15h, o DEP sobrevoa a cidade em um helicóptero da Brigada Militar (BM) para fazer um balanço do sistema e dos alagamentos que persistem, em especial na região das ilhas.
Em Brasília desde ontem à noite, o prefeito José Fortunati espera convencer pessoalmente a presidente Dilma Rousseff (PT) de que a cidade precisa ter o decreto de situação de emergência municipal reconhecido pela União. O chefe do Executivo da Capital vai aproveitar uma reunião marcada para as 11h30min, da qual participa como dirigente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), para entregar um relatório à presidente. Em tese, os prejuízos da chuva contabilizados não chegam à metade do percentual requerido pela União para liberação de auxílio.
Seria necessário comprovar perdas públicas de R$ 128 milhões (2,77% da receita líquida), enquanto a prefeitura registra cerca de R$ 60 milhões. Ainda assim, a ideia é sensibilizar o governo federal sobre a situação crítica histórica que atinge a Capital gaúcha, similar à de municípios gaúchos menores.