Para futuro relator especial da Comissão de Água Potável e Saneamento Básico da Organização das Nações Unidas (ONU), professor Leo Heller, é preciso planejamento para combater os atuais e futuros problemas de abastecimento de água. Na avaliação dele, o que está acontecendo este ano em São Paulo poderá se repetir em 2015. “As propostas que tenho ouvido não se implementa em menos de um ano, e o que estamos passando este ano poderá se repetir no ano que vem. Não são essas medidas que darão a solução”, disse sobre a crise enfrentada por São Paulo.
Heller foi entrevistado hoje (25) no programa Espaço Público da TV Brasil. Segundo ele, o estado de São Paulo não se planejou para uma possível escassez de água para o abastecimento. A atual crise levou a portuguesa Catarina Albuquerque, atual relatora da ONU, a responsabilizar o governo estadual pela falta d’água. Em resposta, o governo de São Paulo escreveu à ONU, protestando pelas críticas da relatora. “O que eu posso dizer é que ela fez declarações que eu apoio. Ela apontou a raiz do problema. Em São Paulo, se o problema tivesse sido previsto e as medidas para remediá-lo fossem adotadas, isso não teria acontecido”, disse Heller.
Ao assistir uma reportagem sobre a falta de água no estado, exibida durante a entrevista, o futuro relator indignou-se: “inaceitável uma situação como essa em uma cidade como São Paulo”. Ele ressaltou que não há exagero por parte da mídia, “é visível que o volume do Cantareira está muito aquém para garantir a segurança de abastecimento. É preocupante, o abastecimento de muitas cidades de São Paulo dependem da represa”.
Perguntado se o racionamento seria uma solução, ele disse que isso tem ocorrido e defende que seja dada transparência ao processo. “O que é o racionamento? Deixar de fornecer água em determinados horários? Isso tem ocorrido. Tem uma espécie de racionamento. Prefiro o racionamento mais formal, planejado”.
Heller explicou que para evitar problemas no abastecimento, o investimento deve ser feito tanto em estruturas como em capacitação de pessoal e em formas de evitar as perdas no próprio sistema de abastecimento, que. segundo ele, chegam a 37% em média no Brasil. De acordo com ele, o país tem feito apenas investimento em infraestrutura.
O professor comentou também a construção de cisternas para levar água a regiões de seca no Nordeste. Apesar de mudar a vida daqueles que recebem o abastecimento, as cisternas não são suficientes para fornecer o volume mínimo considerado adequado pela ONU, de 50 litros diários para proteger a saúde. As cisternas possibilitam apenas o consumo diário de 13 litros por pessoa. “Precisaremos avançar para além das cisternas”, destacou.
Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil