O advogado que representa a avó materna do garoto Bernardo Uglione Boldrini garante ter alertado os Conselhos Tutelares de Santa Maria, onde mora a idosa; e de Três Passos, onde vivia o menino, sobre supostas ameaças que punham em risco a vida da criança. Marlon Taborda informou que a primeira comunicação ocorreu em novembro do ano passado e que nunca teve uma resposta indicando se houve ou não uma apuração do caso. O corpo de Bernardo foi encontrado em um matagal de Frederico Westphalen, na noite de segunda-feira.
Conforme Taborda, os pedidos foram reiterados ao Ministério Público e estão registrados em e-mail. Ele sustenta que houve uma falha. “Os órgãos de proteção devem descer da blindagem em que estão e dar um retorno: olha, essas informações não procederam, procederam, a gente averiguou…”, desabafou o defensor. Segundo o advogado, os relatos de violência contra o garoto chegaram à família “por populares”. Ao saber do caso, a avó pediu providências.
Nas respostas que chegaram ao advogado houve apenas a manifestação do Ministério Público questionando se a avó tinha o interesse de ficar com a guarda do garoto e de que forma podia criá-lo. Nessas mesmas correspondências eletrônicas, nunca ocorreu indicação de que houve ou não investigação a fim de identificar se o menino corria algum risco, reiterou o advogado.
A reportagem tentou contato com a promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira, que nessa tarde cumpria expediente em Santo Augusto, para questionar porque não houve resposta. Em função de uma audiência, ela não podia atender, informou um assessor. Na terça-fera, a promotora disse que o órgão vinha acompanhando o caso e que uma tentativa de reconciliação com o pai adiou a transferência da guarda do menino para a avó. No Conselho Tutelar de Santa Maria, ninguém atendeu às ligações da reportagem.
O corpo de Bernardo foi encontrado em um matagal de Frederico Westphalen na segunda-feira, dez dias depois de ele desaparecer. A família vivia em Três Passos, distante cerca de 80km. A investigação suspeita que a causa da morte tenha sido uma injeção letal. Os laudos para comprovar ou descartar a suspeita ainda não chegaram à polícia.
Uma das hipóteses para explicar o assassinato de Bernardo é a motivação econômica, já que o menino era herdeiro dos bens da mãe, que cometeu suicídio em 2010. O titular do Departamento de Polícia do Interior, delegado Valter Wagner, disse acreditar que algum tipo de ciúme pode ter motivado o crime. O pai da vítima, Leandro Boldrini; a madrasta, Graciele Ugulini; e a amiga do casal, Edelvania Wirganovicz; são suspeitos do crime e responderão por homicídio qualificado, conforme a delegada Caroline Bamberg Machado. O local para onde os três foram levados, após a prisão, não é revelado.
Polícia ouviu 60 pessoas antes de fazer as prisões
Hoje, a Polícia Civil revelou que tomou cerca de 60 depoimentos – de vizinhos, familiares e amigos – do menino Bernardo antes de encontrar o corpo e fazer as prisões, no fim da noite de segunda-feira. Também foram analisadas câmeras de segurança, realizadas perícias preliminares e cumpridos mandados de busca e de apreensão dos carros de Boldrini, Graciele e Edelvania. O passo seguinte, segundo a força-tarefa de delegados que assumiu o caso, é a individualização das condutas e a descoberta das razões que levaram ao homicídio.
Fonte: Samuel Vettori/Rádio Guaíba